BUCKINGHAM, David. Crescer na era das mídias eletrônicas. Tradução: Gilka Girardello e Isabel Orofino. São Paulo, Loyola, 2007.
Neste livro, Buckingham nos fala sobre as transformações atuais nas concepções de infância diante do surgimento das mídias eletrônicas. Eles apresenta duas linhas de pensamento essencialistas e opostas, sintetizadas pela ‘morte da infância’, visão que considera as mídias culpadas pelo fácil e desenfreado acesso à informação e conhecimento, nem sempre ‘adequados’ aos que ainda 'não pertencem' à vida adulta (crianças e jovens); e a visão otimista da relação das crianças em sua ‘geração eletrônica’, agora ativas e produtoras de cultura, através das mídias.
Para ele, é um processo irreversível, porém a grande preocupação não deveria ser com o conteúdo (controle e regulação), mas com a participação e preparação das crianças neste processo.
Abaixo colocarei alguns trechos fundamentais que sintetizam seu pensamento e a importância da sua obra para pensar infância hoje, além de uma super síntese dos capítulos para os interessados no livro! =)
Prefácio
“É difícil ignorar a importância cada vez maior das mídias eletrônicas. Em todas as sociedades industrializadas – e também em muitos países em desenvolvimento – as crianças hoje passam mais tempo em companhia dos meios de comunicação do que com seus familiares, professores e amigos. (...) Suas experiências midiáticas são repletas de narrativas, imagens e mercadorias produzidas pelas grandes corporações globalizadas de mídia.” (p. 7)
Para ele, “o significado de infância nas sociedades contemporâneas está sendo criado e definido por meio das interações das crianças com as mídias eletrônicas.”
Ele considera importante lembrar que ‘as características da família e da escola – as duas instituições-chaves que em grande parte delimitam e definem a vida das crianças – variam bastante de uma cultura para outra.’
“A infância não é absoluta, nem universal, e sim relativa e diversificada. A idéia de infância é uma construção social, que assume diferentes formas em diferentes contextos históricos, sociais e culturais. (...) As crianças de hoje podem ter mais em comum com crianças de outras culturas do que com seus próprios pais.” (p.8)
Introdução - Capítulo 1 – Em busca da Infância
As interpretações das mudanças na infância “e no papel dos meios de comunicação em refleti-las ou produzi-las – estão agudamente polarizadas. De um lado, acham-se os que argumentam que a infância, tal como a conhecemos está desaparecendo ou morrendo, e que as mídias – particularmente a televisão – são as maiores culpadas. As mídias aparecem aí como responsáveis pelo apagamento das fronteiras entre infância e idade adulta, e, conseqüentemente, por um abalo na autoridade dos adultos. De outro lado estão aqueles que argumentam que há um crescente abismo de gerações no uso das mídias – que a experiência dos jovens com as novas tecnologias (especialmente os computadores) está cavando um fosso entre sua cultura e a da geração de seus pais. Longe de apagar as fronteiras, as mídias são vistas aí como responsáveis pelo fortalecimento delas – apesar de agora serem os adultos aqueles que se acredita terem mais a perder, uma vez que a habilidade das crianças com a tecnologia lhes oferece acesso a novas formas de cultura e comunicação que em grande parte escapam do controle dos pais.” (p.18)
“As mídias eletrônicas têm um papel cada vez mais significativo na definição das experiências culturais da infância contemporânea. Não há mais como excluir as crianças dessas mídias e das coisas que elas representam, nem como confiná-las a materiais que adultos julguem bons para elas. A tentativa de proteger as crianças restringindo o acesso às mídias está destinada ao fracasso. Ao contrário, precisamos prestar muito mais atenção em como preparar as crianças para lidar com estas experiências, e ao fazê-lo, temos de parar de defini-las simplesmente em termos do que lhes falta.” (p.32)
Na Parte I do livro, contendo o Capítulo 2 “A morte da infância” e Capítulo 3 “A geração eletrônica” ele descreve detalhadamente (revisão literária) e contra-argumenta sobre as duas visões ‘antagônicas’ essencialistas da relação infância e mídias eletrônicas, com semelhanças entre si.
Parte II
No Capítulo 4 – Infância em Mudança, Buckingham fala das relações e mudanças entre infância, relacionadas (ou não) às mídias. Ele diz que a relação de espaços públicos e privados alteraram a experiência das crianças.
No Capítulo 5 – Mídias em mudança, Buckingham fala das mudanças das mídias e como isso afeta a criança, transformando a infância em produto. O poder de consumo das crianças passou a ser reconhecido e o mercado voltou-se a este ‘novo’ público em potencial.
No Capítulo 6 – Paradigmas em mudança, o autor traz uma ‘revisão’ de pesquisas que relacionam mídias e crianças, cuidados e equívocos, etc.
Parte III – Capítulos 7, 8 e 9, Buckingham relaciona suas pesquisas com as relações entre crianças e violência, crianças e consumo, além de crianças como cidadãs.
A Conclusão e o capítulo 10, considerei a parte mais importante (e produtiva), já que resume tudo que foi falado no livro e aborda os direitos de mídias das crianças.
Para Buckingham, é preciso “entender a extensão – e as limitações – da competência que as crianças têm de participar do mundo adulto. Em relação às mídias, temos de reconhecer a habilidade que as crianças têm de avaliar as representações daquele mundo disponíveis para elas e identificar o que elas ainda precisam aprender para fazê-lo de forma mais plena e produtiva.” (p.278)
Os direitos das crianças
Buckingham complementa a noção de 3Ps dos direitos das crianças às mídias (provisão – oferta, proteção, participação) com o termo educação. Pois considera a provisão e proteção, direitos passivos, mas a participação, um direito ativo.
Ele defende a importância das crianças também participarem dos critérios e escolhas do que é oferecido para elas, daquilo do que elas são ‘protegidas’.
“As crianças somente se tornarão competentes se forem tratadas como sendo competentes. De fato, é difícil entender como elas podem se tornar competentes para fazer alguma coisa se nunca tiverem a chance de se envolver com aquilo.” (p.283)
Buckingham reivindica que ‘as crianças devem ouvir, ver e expressar a si mesmas, sua cultura, sua linguagem e sua experiência de vida’. (p.285)
O autor diz que garantir a participação depende também do desenvolvimento de habilidades, para que elas possam de fato exercer seu direito de participar. Com isto, ele acrescenta um quarto termo aos 3Ps, a Educação.
“A educação deverá buscar ampliar a participação ativa e informada das crianças na cultura de mídias que as cerca. (...) Mais do que deixar as crianças isoladas em seus encontros com o mundo ‘adulto’ das mídias contemporâneas, precisamos encontrar modos de prepará-las para lidar com ele, participar dele, e se preciso, mudá-lo.” (p.286)
“É preciso haver propostas mais ativas de financiar a produção de materiais a que as crianças realmente queiram assistir, e de habilitar as crianças a produzir esses materiais elas mesmas.” (p.289)
Ele encerra dizendo que “As crianças estão escapando para o grande mundo adulto – um mundo de perigos e oportunidades onde as mídias eletrônicas desempenham um papel cada vez importante. Está acabando a era em que podíamos esperar proteger as crianças desse mundo. Precisamos ter a coragem de prepará-las para lidar com ele, compreendê-lo e ele tornarem-se participantes ativas, por direito próprio.” (p.295)
Para melhor aprofundamento, recomendo ler o livro todo! =)
Espero que tenham gostado e aproveitado minha síntese! =)
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