Guilherme Bryan, especialista no tema, fala sobre a importância do videoclipe
Por Marcus Tavares
Com a recente morte de Michael Jackson, vários de seus videoclipes voltaram às paradas de sucesso. Thriller, o mais famoso de todos os tempos, foi resgatado, assim como Black or White, Bad e They Don’t Care About Us. Trabalhos ricos em produção e conteúdo. O astro pop revolucionou a conjugação entre música e cinema. Segundo o jornalista e escritor Guilherme Bryan, o cantor mostrou que valia a pena investir na produção, contratando grandes profissionais da indústria de mídia. A fórmula deu certo.
Sucesso entre jovens, os videoclipes, na verdade, conquistaram o mercado mundial com o surgimento da Music Television, a MTV. “No Brasil, localizo três fases: os videoclipes do programa Fantástico, da TV Globo; os videoclipes do videomakers com suas produtoras; e a fase posterior ao surgimento da MTV Brasil”, conta Bryan, autor do livro Quem tem um sonho não dança – cultura jovem brasileira dos anos 80.
Foi com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre os videoclipes, sua história e influência, que a revistapontocom resolveu entrevistar Bryan, especialista no assunto e doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). O título de sua tese é A autoria no videoclipe brasileiro.
Acompanhe:
revistapontocom - Michael Jackson e videoclipe: o que isso tem a ver?
Guilherme Bryan - O Michael Jackson revolucionou os videoclipes e fez deles algo realmente fundamental não só para a divulgação de uma canção e seu disco, mas também de um estilo, postura e modo de comportamento. Além disso, foi o primeiro artista negro a ser exibido no horário nobre da MTV. Com Thriller, ele demonstrou que valia a pena investir muito e contratar grandes profissionais para realizar videoclipes. Em Black or White, o diretor John Landis consagrou a técnica do morphing, em que rostos se transformam em outros. Em Bad, o diretor Martin Scorsese realizou uma espécie de West Side Story dos anos 80. Isso sem esquecer, é claro, que Spike Lee filmou Michael Jackson no Morro Dona Marta, no Rio, e no Pelourinho, em Salvador, com o Olodum, para o clipe They Don’t Care About Us.
revistapontocom - Como você definiria a estética do videoclipe?
Guilherme Bryan - Sinceramente, não sei se essa estética realmente existe. Acho que cada videoclipe possui a sua própria estética. De maneira mais ampla, é possível dizer que o videoclipe é um gênero audiovisual relativamente curto - dura, em média, de 2 a 3 minutos - e gira em torno de uma única canção específica. Ou seja, são criadas imagens para ilustrar uma única canção. Geralmente, nos videoclipes, os cortes são secos e muitos. Possui o que se denomina como “edição picotada”, que, posteriormente, viria a influenciar o cinema, a publicidade e outros gêneros televisivos.
revistapontocom - Esse formato ainda é uma característica das produções atuais?
Guilherme Bryan - O videoclipe mostrou-se, ao longo dos anos, ser o gênero que melhor se adapta aos diferentes espaços de divulgação, seja na televisão, no cinema, no telefone celular e na internet, por ser relativamente curto e encantar em poucos segundos. Ou seja, é possível ver um videoclipe em qualquer lugar sem que isso implique em muita perda de qualidade. Por outro lado, imagine ver um filme de longa-metragem no telefone celular. É praticamente impossível.
revistapontocom - A história do videoclipe pode ser dividida em etapas?
Guilherme Bryan - A história do videoclipe mundial com certeza se divide em antes e depois do surgimento da MTV, em 1981, pois ela se tornou o espaço por excelência para exibição dele. Outra etapa importante aconteceu no início dos anos 90, com a entrada em cena de diretores que fizeram do videoclipe um excelente espaço para experimentações, radicalizando nessas experiências mais do que os diretores anteriores. Esse é o caso de Michel Gondry, Spike Jonze, David Cunningham e Valerie Faries e Jonathan Dayton. Outra mudança ocorreu na metade dessa década, quando o videoclipe passou a ser realizado com orçamentos menores, destinado à exibição principalmente pela internet. No Brasil, localizo três fases: os videoclipes do programa Fantástico, da TV Globo; os videoclipes do videomakers com suas produtoras; e a fase posterior ao surgimento da MTV Brasil.
revistapontocom - O videoclipe ainda exerce influencia sobre os jovens?
Guilherme Bryan - O videoclipe sempre influenciou e acredito que continuará influenciando os jovens do mundo todo, pois eles podem se identificar com o estilo de um determinado artista ali, seja pela indumentária utilizada, seja pelos gestuais.
revistapontocom - Qual é a função dos videoclipes?
Guilherme Bryan - Os videoclipes continuam com a mesma função. Eles possuem, em si, duas vertentes complementares: a vertente promocional, que visa a divulgar uma canção e seu artista para atrair mais compradores para o disco do qual ele faz parte; e a vertente artística, que serve de espaço de experimentação para realizadores de audiovisuais.
revistapontocom - A cultura digital modificou a produção dos videoclipes?
Guilherme Bryan - A cultura digital revolucionou toda a produção audiovisual e, portanto, também o videoclipe, a partir do momento em que modificou completamente a maneira de se realizar, principalmente na edição, esse tipo de produção.
revistapontocom - Você arriscaria alguma projeção dos videoclipes para daqui a alguns anos?
Guilherme Bryan - Acredito que cada vez mais os videoclipes serão exibidos na televisão, no celular, na internet etc. Acho que ele continuará influenciando o comportamento dos jovens no mundo todo.
Fonte: http://www.revistapontocom.org.br/edicoes-anteriores-conversa-com/a-linguagem-do-videoclipe
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