A composição da imagem segue algumas convenções herdadas da pintura clássica e modificadas a partir do desenvolvimento das artes gráficas e digitais. Depende também em grande parte de pesquisas sobre a percepção visual relacionada ao sentido que se dá às imagens, estudadas principalmente pela Gestalt. São de modo geral comuns à cultura imagética ocidental e se referem a uma educação visual já assimilada durante a educação e a
exposição aos meios de comunicação. Essa linguagem visual está presente, portanto, na maioria dos produtos da mídia. A seguir, algumas dicas que podem servir de parâmetro para criar o que se considera uma “boa” imagem já adaptada para a televisão.
Regra dos terços - Os sujeitos principais se colocam na interseção das linhas que dividem vertical e horizontalmente a tela em 3 partes iguais.
Proporções - O valor expressivo do tema muda em função do lugar onde se coloca o sujeito principal. Quanto mais alto e à direita está o enquadramento, maior a força pictórica.
Ritmo visual - As linhas verticais e diagonais promovem um ritmo enfático. Já as linhas horizontais e suaves sugerem um ritmo apaziguante.
Influência emocional de contraste tonal - Na criação da decoração e da colocação da luz: luz e sombra criam situações emocionais na imagem. A abundância de tons escuros não vai bem em TV, pois os tons escuros estão relacionados a um efeito pesado, sombrio, sórdido e sério. Os tons claros, ao contrário, proporcionam um efeito alegre, delicado, aberto e simples.
A cor e a imagem - Detalhes de cor não são detectados na TV. Cores quentes e frias têm significados diferentes. O peso pictórico é afetado pelo calor, por isso compor massas em uma imagem com pequenas áreas de cor saturada (escura) para equilibrar zonas maiores de cor não saturada (claras). A cor e a emoção estão relacionadas: o vermelho é igual a cólera, poder e força; o verde é igual a primavera, frescura; enquanto o branco lembra neve, o que é puro, delicado e frio.
Escala - Existe uma relação aparente de tamanho que a imagem transmite. A audiência julga interpretando várias chaves visuais: comparando o entorno com o sujeito que se conhece o tamanho; comparando o sujeito com sujeitos de tamanhos conhecidos; em função do espaço dentro do enquadramento; relacionando a perspectiva da tomada.
Atitude do sujeito - As atitudes associadas ao ator podem modificar sua força efetiva. Atitudes débeis: visões de lado ou atrás, caído, olhando para baixo, agachado, movimento lento. Atitudes fortes: visão de frente, cabeça levantada, punhos cerrados. O tratamento de câmera ressalta ou anula esses efeitos: visto do alto, o enfurecido fica frívolo, se visto de baixo sua força dramática é aumentada.
Sentido visual - É preciso respeitar a direção do olhar, o que significa sempre deixar mais espaço à frente que atrás. O enquadramento do rosto deve ser feito deixando os olhos a cerca de um terço da
imagem a partir de cima. Do mesmo modo, é necessário um espaço à frente do tema. Para isso, deixar espaço livre no sentido em que o tema se move para dar equilíbrio e reforçar o seu significado.
Velocidade das linhas de composição - O olhar observa formas a velocidades diferentes. As linhas curvas sugerem um velocidade pausada, enquanto as linhas retas dão a impressão de correrem rapidamente. A vitalidade da imagem como um todo vem do ajuste entre linhas rápidas que permitem entrecruzamentos abundantes. Linhas e formas simples atraem mais rapidamente a atenção que as complexas e desconexas.
Continuidade de ação - É preciso criar uma coerência na direção do movimento da imagem, na velocidade e posição do tema de um plano para outro.
Linha de ação e regra dos 180º - Para evitar descontinuidade visual dos temas em movimentos, gravar os planos sempre de um dos lados da linha de ação num ângulo de 180º, para evitar que haja uma quebra de sentido na direção do acontecimento, que é antinatural. Assim, o que segue em frente não pode, de repente, voltar sem que tenha mudado de direção.
Continuidade da linha dos olhos - Em quaisquer planos sucessivos de duas pessoas olhando ou falando com outras, é necessário que ambas sejam apresentadas olhando em sentidos opostos, viradas uma para a outra. A correspondência da linha do olhar confirma a relação espacial. Essa
continuidade também serve para a direção do olhar para objetos em geral.
Continuidade das aparências – Essa naturalidade é necessária, por exemplo, para manter a coerência da aparência geral e detalhada de um tema de um plano para outro e ao longo de toda uma seqüência. Essa continuidade é válida para iluminação, ação e posições de um plano para outro, detalhes dos fundos, figurino.
Fluxo de imagens - Uma maneira de manter a continuidade sem choques é mudar a dimensão (enquadramento) e o ângulo da câmera entre dois planos, para evitar que o tema salte na imagem. Para isso, pode-se usar uma dinâmica de plano e contraplano, ou seja, inverter os ângulos para dar idéia de continuidade visual. Planos devem ser complementares, opostos e ter a mesma dimensão para reforçar a relação entre os temas. Por isso, é preciso pensar visualmente a interligação das cenas, não em termos de planos isolados, mas de seqüências de imagens eficazes que progressivamente definam o sentido do tema.
Coisas a fazer em composição:
*Manter as horizontais niveladas, especialmente quando se faz panorâmica.
*Manter as verticais direitas quando se inclina a câmera.
*Afastar os elementos importantes da beirada da imagem.
*Decidir previamente quais as primeiras e as últimas imagens que serão utilizadas quando se fizer panorâmica, uma zoom ou inclinar câmera.
*Compor mentalmente e executar primeiro.
*Estar pronto para ajustar enquadramento ou compor de novo quando se grava objetos em movimento.
*Deixar espaço livre entre o topo da cabeça das pessoas e o rebordo da imagem.
*Deixar espaço à frente do tema para reforçar o sentido de orientação da imagem.
*Confiar nos olhos para avaliar a cor. O visor só mostra preto e branco.
*Criar profundidade experimentando com os fundos, a focagem e a iluminação.
Coisas a não fazer em composição:
*Não cortar as pessoas pelas articulações.
*Não mover sempre a câmera acompanhando o tema.
*Compor planos de ação estática.
*Não deixar que objetos estranhos nasçam da cabeça das pessoas.
*Não filmar tema verde sobre fundo verde. Desaparecerá...
*Não centrar sempre seus temas. Deslocar e equilibrar com outros elementos.
*Não seguir sempre as regras. Habituar-se a olhar analiticamente o que se vê na televisão.
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Fonte: CRUZ, Dulce Márcia. Introdução a Mídia e Conhecimento. Apostila do Curso de Especialização para Gestores de Instituições de Ensino Técnico do SENAI, Turma 4. Disciplina 1 do Terceiro Módulo. Florianópolis: PPGEP/LED, 2000.