segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cinema Para Todos

Tereza Porto e Adriana Rattes, no lançamento do programa, em Duque de Caxias

Acesso a produtos audiovisuais brasileiros é o que o Programa Cinema Para Todos oferece. Trata-se de um projeto da Secretaria de Estado de Cultura em parceria com a Secretaria de Educação do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Até 2010 serão distribuídos 1,7 milhões de vales-ingresso para que os alunos da rede pública estadual de ensino possam assistir gratuitamente aos filmes brasileiros lançados recentemente. Os alunos poderão ir ao cinema no dia e horário que quiserem, com direito a acompanhante, e assistirem a um ou mais filmes, nas salas parceiras do programa.

Diferente da maioria dos projetos voltados para alunos fora do ambiente escolar, que em geral realizam excursões e promovem sessões dirigidas tendo como principal objetivo a utilização dos filmes como material de apoio didático, o Cinema Para Todos busca trazer o indivíduo ao convívio com as obras cinematográficas brasileiras como atividade de lazer, que poderá, através da proposta pedagógica de cada escola, reverter-se em conteúdo didático ou estimular a reflexão e o debate. Esta nova abordagem promove a valorização da educação como forma de descobrir e entender novos mundos, ampliando o aprendizado tradicional.

O projeto teve início em novembro de 2008, em oito municípios do interior do Estado, e em março de 2009, mais quatorze municípios participarão do circuito, incluída a capital.

O fomento à exibição de filmes brasileiros, principalmente no interior do Estado do Rio, também é um dos pilares do programa. O Estado possui 92 municípios, dos quais apenas 24 contam com salas de cinema. Esse número reflete o atual quadro do circuito exibidor e recai sobre a acessibilidade dos filmes nacionais, que apesar da retomada ainda apresentam dificuldades de ir ao encontro do público.

O Cinema Para Todos não tem a pretensão de solucionar as deficiências do mercado cinematográfico. O programa busca a simpatia às obras brasileiras de uma parcela da população cujo acesso ao cinema é restrito, ao mesmo tempo em que gera o compromisso das salas de cinema em manter um ou mais filmes brasileiros em sua programação. Disso resulta um movimento entorno da obra nacional e uma receita muito bem vinda, principalmente para as pequenas salas.

Um reflexo do potencial do programa é o excelente desempenho no município de Bom Jesus de Itabapoana, extremo norte do Estado. Ali, o único cinema da cidade - Cine Mais - obteve uma taxa de ocupação da sala de 80% no primeiro final de semana do projeto, resultado melhor do que o da sala de cinema mais freqüentada na capital em todo o ano de 2007.

Outro bom exemplo é o Cine Teatro Itaperuna, que obteve excelente retorno do público, assim como Cinemaxx Unigranrio em Duque de Caxias e o Cine Glória – prédio tombado pelo INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) em Valença, especialmente reaberto para o projeto.

Na primeira fase, foram exibidos onze longas brasileiros. Para março de 2009 estão previstos filmes como O Menino da Porteira, Verônica, Bela Noite Para Voar, entre outros.

Os vales são distribuídos dentro das salas de aula por agitadores culturais locais, criando uma rede de atuação que envolve todos os municípios participantes. Rede que envolve também as secretarias estaduais de Cultura e Educação do Rio de Janeiro, a equipe gestora da Associação Cidadela – Arte, Cultura e Cidadania, coordenadores regionais de educação, diretores, coordenadores, professores e alunos, profissionais do mercado de exibição cinematográfica e mais de uma centena de pessoas engajadas na aproximação entre o público e o cinema brasileiro.

Por Viviane Ayres

Outras notícias relacionadas:

http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/nas_escolas_cinema.asp

http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/cultura/115472-cinema-para-todos-programacao-de-cinema.html

http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/cinema-para-todos-usa-tropa-de-elite-2-para-unir-educacao-e-cultura-a-favor-da-cidadania-20101022.html

http://www.jusbrasil.com.br/noticias/164716/cultura-lanca-projeto-cinema-para-todos-em-cinco-municipios

http://odia.terra.com.br/rio/htm/projeto_cinema_para_todos_e_de_graca_nessas_ferias_219392.asp

http://intertvonline.globo.com/rj/noticias.php?id=9379

http://www.cidadeverde.com/clube-dos-diarios-realiza-projeto-cinema-para-todos-54888

http://www.brusque.sc.gov.br/web/noticia.php?noticia=413:fundacao_cultural_de_brusque_oferece_a_magi

http://www1.an.com.br/2004/mar/24/0ane.htm

http://culturaita.blogspot.com/2010/09/projeto-cinema-para-todos.html

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Minicurso: O cinema e o audiovisual na sala de aula

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

9º SEPEX – Semana de Pesquisa e Extensão - 2010

Data: 22/10/10 - 14h às 18h - Sala 223 - Bloco A

Objetivo: experimentar um método de capacitação de professores na utilização do cinema e do audiovisual na sala de aula, através de atividades práticas com os participantes.
Conteúdo: uso de filmes e vídeos para análise, redação, criação, releitura e discussão.

1. Usar o cinema/audiovisual como ferramenta de expressão artística. (criação, releitura, adaptação, extensão)

2. Usar o cinema/audiovisual como objeto de análise. (discussão: estrutura, narrativa, personagens, tema)

PONTOS DE PARTIDA – Ser o MEDIADOR entre filme/audiovisual

-Selecionar algum filme/audiovisual de interesse pessoal e relacioná-lo ao conteúdo/proposta.

-Pesquisar algum filme/audiovisual que possa se encaixar numa proposta prévia.

-O filme/audiovisual pode ser levado para sala de aula OU o repertório do aluno pode ser aproveitado OU o aluno pode ter a tarefa (TV, DVD, YOUTUBE, INTERNET) de ver em casa (ideal tarefa específica) e a atividade ter continuidade na sala de aula.

CUIDADOS:

-Não fazer do filme/vídeo um tapa-buraco de aula, sem uso OBJETIVO e PLANEJAMENTO prévio.

-Pesquisar o máximo de INFORMAÇÕES sobre o filme/vídeo

-Ter noções sobre LINGUAGENS (cinema, comercial, reportagem, videoclipe, telenovela) e MÍDIAS (cinema, tv, dvd, internet, celular)

ALGUNS LEMBRETES:

-A imagem em movimento surgiu com o CINEMA e suas transformações se adaptaram a outras linguagens e mídias, como TELEVISÃO, DVD, INTERNET e CELULAR, conforme evolução da humanidade, mas estas mídias também influenciam o fazer cinema hoje.

-Narrativa Clássica Hollywoodiana - TELENOVELAS: personagem(s) e objetivo(s) – obstáculo(s) – solução (s) e desfecho.

-Composição de PLANOS Cinematográficos: GPG, Geral, Conjunto, Inteiro, Americano, Médio, Primeiro, Detalhe

-Grandes GÊNEROS ficcionais: drama, comédia, aventura e suspense

-ESTRUTURA básica FILME/AUDIOVISUAL: idéia (argumento), roteiro, storyboard, produção, edição, exibição

-ESTRUTURA básica VÍDEO-REPORTAGEM: pauta – tema – pontos de vista/entrevista/enquete – produção/gravação/vivo/passagem/off – roteiro – edição/trilha/imagens

-ESTRUTURA básica PROPAGANDA-COMERIAL: Marca/empresa – Produto/Serviço/Conceito – Público-Alvo – Estratégia Persuasão/Roteiro – Slogan

-Algumas estratégias de PERSUASÃO na publicidade: apelo ao humor/medo/drama/autoridade/celebridade/estereótipo; criação inimigos/problema; comparação/alusão; uso homem comum

-SLOGAN: frase de impacto resume essência, geralmente curta, afirmativa, sem erros gramaticais.

-Estética VIDEOCLIPE – vídeos curtos, sincronia som/imagem, edição dinâmica, atrativa/persuasão/consumo/cores/formas

ALGUMAS PROPOSTASTema: Consumo X Impacto ambiental

-Trecho inicial do filme “A ESTRADA” de John Hillcoat 2009 – 6min.

-Dicas filmes: “Avatar”; “Wall-e”; “A era do gelo”, “O dia depois de amanhã”, “Mad Max”

-Curtas interessantes: “Crianças invisíveis” (2005) – curtas de 7 diretores; “Paris, te amo” (2006) – curtas de 20 diretores;

-Projeto Cities of Love chega ao Brasil – Previsão em 2011 – “Rio, eu te amo”

-Vídeo-reportagens: “Como fazer VR - Rafinha Bastos” 2min, “Sacolas plásticas” 2min, “Construções” 7min.

-Documentário: “Ilha das Flores” de Jorge Furtado (1989) – 13min.

-Comerciais: 9 tipos (Tempo: média entre 15 e 60seg.)

-Videoclipes/músicas: Nacionais: Ideologia – Cazuza; Gabriel o Pensador – Astronauta, Lôra Burra, Retrato de um playboy, Até quando, Legião Urbana – Geração Coca-cola, Lulu Santos – Assim caminha a humanidade, Seu Jorge – Burguesinha, Titãs – Flores, Homem primata – Internacionais: Acqua - Barbie Girl, Madonna - Material girl, Radiohead - Fake Plastic Trees, Rage Against the Machine - Testify Music Video

Sugestões de alguns sites

www.telabr.com.br – oferece oficinas interativas on-line e material de filmes nacionais para trabalhar em sala de aula, além de conter um túnel do tempo do cinema mundial e brasileiro.

www.portacurtas.com.br – oferece curtas nacionais, roteiros e materiais que podem ser trabalhados em aula.

www.curtanaescola.com.br - oferecem curtas e material educativo para serem trabalhados em aula.

http://cinemanocja.wordpress.com - site do projeto de cinema do colégio Jardim Anchieta – Fpolis-SC com material on-line e vídeo-aulas de edição.

www.videotecaonline.com.br - videolocadora que disponibiliza consulta on-line e locação de filmes didáticos, separados por temas e afins. (exige critério de seleção do professor)

Sugestões de leitura

CARVALHO, Renata I. B. Universidade midiatizada: o uso da televisão e do cinema na educação superior. Brasília: Senad-DF, 2007.

CARRIÈRE, Jean-Claude. A linguagem secreta do cinema. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2006.

DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002 - 2 ed.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008.

TOULET, Emmanuelle. O cinema, invenção do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

VANOYE, Francis e GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. 5. ed. Campinas: Papirus, 2008.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ministro da Cultura lança projeto que levará cinema para todos os municípios do Brasil

O Globo - RJ, Evandro Éboli, em 4/11/2009

BRASÍLIA – O ministro da Cultura, Juca Ferreira, lançou esta quarta-feira o projeto “Cinema da Cidade”, na Câmara dos Deputados. O objetivo do projeto é instalar salas de cinema em todos os municípios do Brasil. Segundo o presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel, 92% das cidades brasileiras não contam sequer com uma sala de cinema. Mas o projeto será financiando com emendas de parlamentares e cada complexo – que envolve duas salas de exibição com capacidade variável de 70 a 250 poltronas, projetor e equipamento sonoro, uma sala multiuso e uma bomboniére – custará R$ 1,5 milhão.

O projeto tem como alvo cidades com população que varia entre 20 mil a 100 mil habitantes. Há 1.177 municípios desse porte sem sequer uma sala de cinema.
- É preciso levar os filmes nacionais para o interior do país. Do que adiante financiarmos e produzirmos cem filmes por ano senão chega a todo o Brasil – disse Juca Ferreira.
Em tom de descontração, o ministro diz que aposta no sucesso de bilheteria do longa-metragem “Lula, o filho do Brasil”, que conta a história do presidente da República. Ferreira tratou de dizer que ainda não assistiu e que o custo da produção não passou pelo seu ministério. Perguntado sobre as chances de sucesso, respondeu:
- Sim, vai fazer sucesso. O personagem (Lula) é muito conhecido e muito querido. Talvez até mais que o Homem-Aranha e o Batman – disse Juca Ferreira.

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Projeto "Internet Para Todos" é lançado em mais dois bairros da Capital Imprimir

Os moradores dos bairros Bela Vista e Pedregal são os próximos beneficiados com o programa de inclusão digital "Internet para Todos", uma ação desenvolvida pela Prefeitura de Cuiabá em parceria com a empresa de informática Stelmat, cujo objetivo é levar sinal de internet gratuito à população de baixa renda.

No Bela Vista, a solenidade de inauguração do sistema de internet gratuita ocorre às 19h30, no centro comunitário do bairro, localizado na avenida Oátomo Canavarros. Já no Pedregal o programa será inaugurado ás 20h30, no centro comunitário que fica ao lado da igreja Assembléia de Deus.

A expectativa da Prefeitura é que até o final deste mês o sinal da internet chegue 100% gratuito às residências da Capital. O projeto já é realidade em bairros como o Pedra 90, Doutor Fábio e São João Del Rey, regiões pólos que atendem os bairros do entorno.

Como utilizar o sistema

O responsável técnico da Stelmat explicou que para utilizar o sistema o cidadão terá que adquirir uma antena USB 2510, que custa aproximadamente R$100 reais. Ele informou que o uso da antena é necessário caso o usuário esteja em uma zona distante de transmissão do sinal.

Ele disse ainda que o equipamento pode ser encontrado em todas as lojas de informática da cidade. Para as pessoas que não possuem recursos financeiros a antena também poderá ser financiada pelo Cuiabanco, o banco do povo do município. "O cidadão deixa de pagar a taxa mensal de internet para comprar o computador. O projeto visa a acessibilidade digital a todos como se fosse uma lan house pública", conclui.

Fonte:

CAMILO, Márcio. Projeto "Internet Para Todos" é lançado em mais dois bairros da Capital. Disponível em http://www.circuitomt.com.br. Acesso em 05 de março de 2010.

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Lula quer participação de todos no Plano Nacional de Banda Larga

Por Edileuza Soares, da Computerworld

“O governo não será o dono deste projeto sozinho”, disse o presidente. A próxima semana será decisiva para definição do modelo de execução.

“Já temos a proposta quase acabada”, garantiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tarde desta sexta-feira (5/2) ao se referir ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que passará por fase importante na próxima semana.

Lula fez essa confirmação durante a cerimônia de inauguração do Centro Nacional em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), em Porto Alegre (RS), onde aproveitou para mandar um recado aos que são contra a reativação da Telebrás para operacionalizar o programa do governo federal para universalização da internet no Brasil.

O presidente afirmou que ninguém deixará de ser ouvido no País sobre o PNBL, antes da reunião ministerial que acontecerá na próxima terça-feira, 10/2, para apresentação de uma proposta para colocar o programa em prática.

Lan houses

Até representantes do segmento de lan houses serão ouvidos, por determinação do presidente. Existem entre 6 mil e 8 mil estabelecimentos desses no Brasil, que são um dos principais meios para inclusão digital da população de baixa renda que ainda não tem computador em casa. Eles também darão sugestões para o PNBL.

O encontro deverá ser nos mesmos moldes dos que aconteceram esta semana com os representantes da sociedade civil, das operadoras de telecomunicações e provedores de internet. Todos ouviram do governo a intenção de construção de um projeto conjunto. E saíram mais tranqüilos.

O discurso acalmou até as operadoras, que no início da semana chegaram a reagir mal diante das notícias de intenção real do governo de reativação da Telebrás para prestação do serviço.

“Ainda é prematuro fazer qualquer afirmação com respeito à Telebrás”, afirmou Luiz Eduardo Falco, que foi um dos participantes da reunião realizada hoje em Brasília, comandada pelo cooredenador do programa de inclusão digital da Presidência da República, Cezar Alvarez e a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.

Regras claras

“ Fizemos algumas sugestões hoje sobre o plano”, disse o presidente da Oi. “Pedimos mais agressividade em impostos e a separação entre os temas competição e regulamentação”, afirmou o executivo, que considera a existência do PNBL boa para o Brasil, mas acha importante o estabelecimento de regras claras sobre a atuação de cada um na tarefa de universalização do serviço.

No discurso em Porto Alegre, Lula voltou a afirmar que o governo não quer estatizar a banda larga. Mas disse que, como até agora as empresa privadas não conseguiram disseminar esse serviço entre as classes menos privilegiadas, o governo o fará.

“Ninguém está a fim de levar nada para o pobre neste país. Ninguém está a fim de fazer a última milha se não for altamente lucrativo”, criticou o presidente, afirmando que só o Estado tem a responsabilidade de garantir acesso a todos, independente da classe social.

Para isso, Lula enfatizou que quer fazer parcerias. “Queremos trabalhar com todos, com a grande, pequena e microempresa”, disse ele, deixando claro que o governo não quer “ser dono desse projeto sozinho”.

Nas contas do governo, o PNBL custará aos cofres públicos cerca de 14 bilhões de reais até 2014. Bem abaixo do orçamento apresentado pelo Ministério das Comunicações, em estudo conjunto com as operadoras de telefonia, de 75 bilhões de reais.

http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/02/05/lula-quer-participacao-de-todos-no-plano-nacional-de-banda-larga/

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Aula de ética é em casa, não na escola

por Gustavo Ioschpe - artigo

Estou começando a procurar escola para o meu filho, e fico impressionado com o que tenho ouvido e lido a respeito das escolas que procuro. Ouve-se falar pouco no desenvolvimento cognitivo, em aprendizagem, em ciências exatas. Menos ainda alguém se referindo a pesquisa empírica ou aos recentes achados de neurociência. Em compensação, dois temas são unanimidade: cidadania e ética. É uma distorção que me preocupa.

Em primeiro lugar, porque parece presumir que o ensino das matérias tradicionais é uma questão resolvida, e que se ater a elas seria algo menor, reducionista ou, como se diz com certo desdém: “conteudismo”. Não é. O Brasil vai muito mal nessa área, como comprovam todos os testes internacionais comparativos. Vai mal não apenas nas escolas públicas. As escolas privadas brasileiras também são, em geral, ruins, mas salvam as aparências por ter suas deficiências mascaradas pelos problemas ainda mais graves das escolas públicas. No Ideb, indicador de qualidade da educação do MEC, as escolas privadas têm nota média 6, em uma escala que vai até 10. No Pisa, teste internacional de qualidade de ensino, descobrimos que os 25% mais ricos do Brasil têm desempenho educacional pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos. Ainda nos falta muito, portanto, para que possamos considerar a transmissão de conhecimento como tarefa cumprida.

Sei que há uma corrente de pensamento no país que acha que podemos e devemos fazer tudo ao mesmo tempo, e que priorizar a ética não significa descuidar do conteúdo. Deixo esse assunto para outro artigo, mas já adianto que não acredito que isso seja possível com o nível de institucionalização a que chegou o tema no Brasil. Atualmente o MEC exige que os livros didáticos de matemática (sim, matemática) atuem na construção da cidadania, estimulando “o convívio social e a tolerância, abordando a diversidade da experiência humana”. Seria melhor se esse espaço do livro e o tempo do professor fossem dedicados à atividade nada trivial de familiarizar o aluno com os conceitos básicos da disciplina. Mesmo quando conseguirem cumprir a função básica de ensinar matemática, português, ciências, não creio que os professores devam priorizar de forma ostensiva a pregação ética. São muitas as razões que me levam a essa conclusão. Em primeiro lugar, o desenvolvimento ético de uma criança é uma prerrogativa de seus pais. Acredito que um pai tem direito a infundir em seu filho padrões éticos divergentes do senso comum, que costuma nortear as escolas. Dou um exemplo claro. A questão da preservação ambiental virou um imperativo ético, e as escolas marretam esse tema insistentemente.

Para mim, conforme já expus em artigo aqui, o comportamento ético em um país com o nível de desenvolvimento brasileiro deveria ser privilegiar o desenvolvimento material humano, mesmo que isso implique algum desmatamento. O que me parece antiético é deixar gente sem renda para que árvores sejam preservadas. Não gostaria, portanto, que um professor ensinasse o contrário ao meu filho. O segundo problema é que não acredito que os professores brasileiros estejam preparados para travar a discussão profunda e multifacetada que o tema da ética exige. O mais certo é que a questão desande para o discurso panfletário, rasteiro, frequentemente ideologizado. Não imagino que o utilitarismo, o hedonismo ou o epicurismo sejam ensinados em pé de igualdade com correntes filosóficas que pregam as vertentes mais clássicas da moralidade judaico-cristã. E, sem esse contraponto, não se está ensinando ética, mas sim fazendo doutrinamento.

Essa dinâmica está diretamente atrelada a outro problema, que é a relação hierárquica que caracteriza o ensino formal. Se uma escola fizesse uma disciplina de ética opcional ou não avaliada, creio que seria possível que houvesse alguma evolução verdadeira por parte do alunado. Mas, no momento em que esse tema virou transdisciplinar e vale nota, é óbvio que os alunos minimamente atilados saberão conformar suas respostas às expectativas e inclinações de seus professores. Quando eu estava na escola, era formada por marxistas a maioria dos professores de história, português, geografia e outras disciplinas da área de humanas. Isso fazia com que eu e muitos outros colegas nos certificássemos de que toda resposta em prova incluísse alguma lenhada na burguesia e uma conclamação à construção de um mundo mais fraterno. Não por convicção, mas porque o nosso falso esquerdismo rendia notas melhores. Tenho certeza de que os mensaleiros, anões do Orçamento, sanguessugas e demais patifes também pregavam a justiça universal em seus tempos de escola.

Surge aí mais um problema do ensino-cidadão, que é a sua total inutilidade. A psicologia evolutiva demonstra que há um substrato ético que é genético e comum à nossa espécie e a alguns primatas. Complementando essa camada, acredito que a formação de uma consciência ética está indissociavelmente atrelada às experiências de vida, não a ensinamentos acadêmicos. Essa consciência se forma através de um sistema de recompensas e punições trabalhado primordialmente pelos pais de uma criança, desde seus mais tenros anos. É o receio da perda do amor paterno que nos leva a agir de forma ética, em um mecanismo inconsciente. Posteriormente, somam-se a essa base a história de uma pessoa e a fortaleza institucional do local em que ela vive.

O psicólogo Steven Pinker relata o exemplo do que aconteceu, literalmente da noite para o dia, quando a polícia da sua Montreal entrou em greve: uma cidade até então pacata e segura viu-se engolfada por uma onda de criminalidade que só cessou com o fim da greve. A população não sofreu um desaprendizado coletivo naquele período: ela agiu como muitos de nós agiríamos em um cenário em que as violações éticas não fossem punidas. Conhecer Sócrates ou Nietzsche não deve alterar o comportamento da maioria das pessoas. Para ser íntegra, a criança precisa receber orientação de seus pais e, depois, saber que desvios antissociais serão punidos. Alguns professores acreditam que podem sanar, com sua atuação, as deficiências da família e do estado. É ilusão. Um estudo recente das pesquisadoras Fátima Rocha e Aurora Teixeira, da Universidade do Porto, investigou a cola em 21 países e apontou haver relação direta entre a desonestidade em sala de aula e o índice de corrupção do país.

Para aqueles que imaginam que este autor é um defensor de uma escola amoral, explico-me. Acredito, sim, que a ética tem papel vital na escola, mas não no discurso, e sim na ação. Cabe à escola criar um ambiente de total liberdade intelectual, mas sem esquecer de aplicar no seu dia a dia os princípios éticos que norteiam a vida em sociedade. Com coisas simples e em todas as matérias: as aulas devem começar no horário, os professores não devem faltar, os alunos violentos devem ser punidos, as regras da escola devem ser aplicadas a todos. E eis aí o busílis da questão: ao mesmo tempo em que são incompetentes e doutrinárias no ensino da ética, nossas escolas são antiéticas em sua prática. O exemplo mais claro: a cola. No estudo citado, descobre-se que 83% dos universitários brasileiros já colaram, um dos índices mais altos do mundo. Cem por cento dos alunos brasileiros já viram alguém colando.

Nos meus tempos de aluno, havia gente colando na grande maioria das provas. É difícil imaginar que os professores não percebessem o que estava acontecendo. Em vários casos, os professores notavam e então caminhavam pela sala, parando perto do “colador”, ou às vezes chamavam seu nome. Mas, se não me falha a memória, em onze anos de escola jamais vi um único aluno perder a prova, a nota do bimestre ou sofrer sanção mais séria por um delito que é provavelmente o mais grave para um ambiente em que se preza o saber. O ensino da ética, em uma realidade assim, é um deboche. Mais do que um deboche, é um desserviço: quando nossas escolas falam sobre o tema e praticam o oposto, a mensagem implícita é que esse negócio de ética e cidadania é papo-furado, pois já na escola os trapaceiros se dão bem. Melhor seria não falar nada.

Fonte: Revista “Veja” – 26/06/10

Desafio aos professores: aliar tecnologia e educação

Entrevista: Guilherme Canela Godoi por Nathalia Goulart

Seja por meio de celular, computador ou TV via satélite, as diferentes tecnologias já fazem parte do dia a dia de alunos e professores de qualquer escola. Contudo, fazer com que essas ferramentas de fato auxiliem o ensino e a produção de conhecimento em sala de aula não é tarefa fácil: exige treinamento dos mestres. A avaliação é de Guilherme Canela Godoi, coordenador de comunicação e informação no Brasil da Unesco, braço da ONU dedicado à ciência e à educação. "Ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente educacional." O desafio é mundial. Mas pode ser ainda mais severo no Brasil, devido a eventuais lacunas na formação e atualização de professores e a limitações de acesso à internet - problema que afeta docentes e estudantes. Na entrevista a seguir, Godoi comenta os desafios que professores, pais e nações terão pela frente para tirar proveito da combinação tecnologia e educação.

Qual a extensão do uso das novas tecnologias nas escolas brasileiras?

Infelizmente, não existem dados confiáveis que permitam afirmar se as tecnologias são muito ou pouco utilizadas nas escolas brasileiras. Censos educacionais realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostram que a maioria das escolas públicas já tem à sua disposição uma série de tecnologias. No entanto, a presença dessas ferramentas não significa necessariamente uso adequado delas. O que de fato se nota é que ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente educacional.

Quais devem ser as políticas públicas para incentivar as tecnologias em sala de aula?

Elas precisam ter um componente fundamental de formação e atualização de professores, de forma que a tecnologia seja de fato incorporada no currículo escolar, e não vista apenas como um acessório ou aparato marginal. É preciso pensar como incorporá-la no dia a dia da educação de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em conta a construção de conteúdos inovadores, que usem todo o potencial dessas tecnologias. Não basta usar os recursos tecnológicos para projetar em uma tela a equação "2 + 2 = 4". Você pode escrever isso no quadro negro, com giz. A questão é como ensinar a matemática de uma maneira que só é possível por meio das novas tecnologias, porque elas fornecem possibilidades de construção do conhecimento que o quadro negro e o giz não permitem. Por fim, é preciso preocupar-se com a avaliação dos resultados para saber se essas políticas de fato fazem a diferença.

As novas tecnologias já fazem parte da formação dos professores?

Ainda é preciso avançar muito. Os dados disponíveis mostram que, infelizmente, ainda é muito incipiente a formação de professores com a perspectiva de criação de competências no uso das tecnologias na escola. Com relação à formação continuada, ou seja, à atualização daqueles profissionais que já estão em serviço, aparentemente nós temos avanços um pouco mais concretos. Há uma série de programas disponíveis que oferecem recursos a eles.

Para os alunos, qual o impacto de conviver com professores ambientados com as novas tecnologias?

As avaliações mais sólidas a esse respeito estão acontecendo no âmbito da União Europeia. Elas mostram que a introdução das tecnologias nas escolas aliada a professores capacitados têm feito a diferença em alguma áreas, aumentando, por exemplo, o potencial comunicativo dos alunos.

As relações dentro da sala de aula mudam com a chegada da tecnologia?

O que tem acontecido - e acho que isso é positivo, se bem aproveitado - é que a relação de poder professor-aluno ganha uma nova dinâmica com a incorporação das novas tecnologias. Isso acontece porque os alunos têm uma familiaridade muito grande com essas novidades e podem se inserir no ambiente da sala de aula de uma maneira muito diferente. Assim, a relação com o professor fica menos autoritária e mais colaborativa na construção do conhecimento.

É comum imaginar que em países com um alto nível educacional a integração das novas tecnologias aconteça mais rapidamente. Já em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde muitas vezes o professor tem uma formação deficitária, a incorporação seja mais lenta. Esse pensamento é correto?

Grandes questões sobre o assunto não se colocam apenas para países em desenvolvimento. É o caso, por exemplo, de discussões sobre como melhor usar a tecnologia e como treinar professores. O mundo todo discute esses temas, porque essas novas ferramentas convergentes são um fenômeno recente. Porém, também é correto pensar que nações onde as pessoas são mais conectadas e têm mais acesso a dispositivos devem adotar a tecnologia em sala de aula de modo mais amplo e produtivo. Outro fenômeno detectado no mundo todo é o chamado "gap geracional", ou seja, os professores não nasceram digitalizados, enquanto seus alunos, sim.

O senhor vê algum tipo de resistência nas escolas brasileiras à incorporação da tecnologia?

Não acredito que haja uma resistência no sentido de o professor acreditar que a tecnologia é maléfica, mas, sim, no sentido de que ele não sabe como utilizar as novidades. Não se trata de saber ou não usar um computador. Isso é o menor dos problemas. A questão em jogo é como usar equipamentos e recursos tecnológicos em benefício da educação, para fins pedagógicos. Esse é o pulo do gato.

Quais os passos para superar a formação deficitária dos professores?

A Unesco sintetizou em livros seu material de apoio, chamado Padrões de Competências em Tecnologia da Informação e da Comunicação para Professores. Ali, dividimos o aprendizado em três grandes pilares. O primeiro é a alfabetização tecnológica, ou seja, ensinamos a usar as máquinas. O segundo é o aprofundamento do conhecimento. O terceiro pilar é chamado de criação do conhecimento. Ele se refere a uma situação em que as tecnologias estão tão incorporadas por professores e alunos que eles passam a produzir conhecimento a partir delas. É o caso das redes sociais. É importante lembrar que esse processo não é trivial, ele precisa estar inserido na lógica da formação do professor. Não se deve achar que a simples distribuição de equipamentos resolve o problema.

Educomunicação é o novo curso de graduação da ECA

Revista Veja - On line

Serão oferecidas 30 vagas no período noturno e o curso terá duração de 4 anos.

De olho na combinação tecnologias e educação, a Universidade de São Paulo (USP) passará a oferecer a partir de 2011 o curso de educomunicação. A carreira já estará disponível para a escolha dos candidatos que se inscreverem no próximo vestibular da Fuvest. Serão oferecidas 30 vagas no período noturno e curso tem duração de quatro anos.

Para os licenciados no curso de educomunicação, o mercado de trabalho engloba dois ramos principais. O primeiro é trabalhar nas escolas - para a educação básica, especialmente o ensino médio. Além disso, os profissionais podem atuar como professores de comunicação ou consultores para projetos pedagógicos que envolvam qualquer uma das mídias: rádio, TV, jornal, internet, cinema. Outra opção é trabalhar em empresas de mídia, onde há vagas como produtores ou consultores para projetos educacionais. A formação, porém não habilita o profissional a atuar como jornalista, relações públicas, publicitário ou em outras áreas profissionais da comunicação.

O manual do candidato 2011 da Fuvest estará disponível a partir do dia 2 de agosto e as inscrições para o vestibular acontecem entre os dias 27 de agosto e 10 de setembro. A taxa é de 100 reais.

(Com informações da agência USP)